Os banquetes devem ter começado no Egito. Bem antes dos egípcios, no entanto, os povos primitivos jantavam seus mortos - pratica seguida por alguns ainda hoje. Existem inúmeras teorias e hipóteses sobre o canibalismo. Nos tempos mitológicos acreditava-se que as virtudes do morto se transferiam para quem comesse as partes onde elas se concentravam. Ganhava-se força do morto comendo-se o seu bíceps, por exemplo. A velocidade, comendo-se os pés. Parente, amigo ou inimigo, o morto precisava ter alguma qualidade para ser devorado.
Na sua História, Heródoto (historiador grego que viveu em torno do século V a.C) anotou que, quando morria um chefe entre os sédons (antigo povo da Ásia central), os parentes levavam á família "gado, que abatem e cortam aos pedaços, fazendo o mesmo com o cadáver, e misturado todas as carnes realizam um festim. Arrancam os cabelos da cabeça do morto e, depois de haverem limpado o crânio, douram-no, servindo-se ele como de um vaso precioso nos sacrifícios solenes que oferecem todos os anos".
Rodrigues cita Heléne Clastres, que, em Les beaux-fréres ennemis; a propôs du canibalisme tupinambá, descreve o ritual:
Constrói-se o forno [...] onde são grelhados todos os mortos, exceto as crianças muito jovens que são cozidas em panelas de terra [...] Durante esse tempo, as pessoas se ocupam do cadáver. Com sua faca de bambu, um homem [...] corta o corpo. A cabeça e os membros são separados do tronco, braços e pernas são desarticulados, órgãos e vísceras são extraídos do seu alojamento. [...] Nada é eliminado do corpo de um homem; do corpo de uma mulher, se retira o 'pere' , seu sexo, que não é consumido. Ele é enterrado. Acontece ás vezes que os intestinos não sejam comidos; não em razão de um tabu alimentar, mas porque eles fedem muito, caso em que serão igualmente enterrados. [...] A cabeça [...] é reservada aos velhos homens e mulheres, e proibida aos caçadores jovens... [...] Quanto ao pênis [...] ele é sempre destinado ás mulheres, e entre elas aquelas que estiverem grávidas. Elas terão assim certeza de dar a luz um menino... [...] Misturado com palmito, e ela [a carne humana] perde sua 'força', pode ser comida sem temor, se transforma em uma carne como outras. Quanto aos ossos, eles são quebrados para que deles seja extraída a medula. As mulheres, sobretudo as velhas, são muito gulosas disso"
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