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terça-feira, 28 de maio de 2013

A Morte no Nordeste Brasileiro

     
 
   No ensaio "Anúbis, ou o culto do morto", o folclorista brasileiro Luís da Câmara Cascudo diz que no Nordeste brasileiro se acreditava que a alma saísse do corpo em forma de pássaro ou que , conservando a aparência humana, fosse transparente como "uma fumaça branca".
     
     O cadáver só podia ser manipulado pelos "tratadores de defunto", pessoas religiosas e honestas que rezavam e vestiam o morto, peça por peça, falando com ele, "chamando-o pelo nome: - dobre o braço, Fulano, levante a perna, deixe ver o pé!" Enquanto trabalhavam analisavam o cadáver: flácido, indicava que ninguém morreria proximamente; rígido, estaria chamando alguém  "para o outro mundo". "Os olhos são fechados com a polpa dos dedos, devagar: - Fulano, fecha os olhos para o mundo e abre-os para Deus!"

     O defunto não devia levar ouro, nem nos dentes, por isso retardaria sua entrada  no outro mundo; a alma acabaria voltando para pedir que a livrassem de qualquer vestígio do metal. Até os botões dourados das fardas militares eram retirados: eles poderiam prejudicá-los no além, "com ostentação da vaidade", Cascudo  diz que antigamente punha-se nas mãos do defunto uma moeda de prata, "óbolo de Caronte, o direito de pedágio", para passar ao outro mundo, costume provavelmente vindo de Portugal.

    Para que o morto não voltasse e assombrasse a casa era preciso que se beijasse a sola do seu sapato. Os sapatos deveriam estar limpos, sem poeira ou quaisquer rastros deste mundo, ou o morto sentiria saudades e retornaria, O defunto nordestino recebia homenagem das "excelências" e dos "beneditos", cantorias que não podiam ser interrompidas quando começadas, porque Nossa Senhora se ajoelhava para ouvi-las.

   As carpideiras nordestinas reproduzem a tradição egípcia, que se espalhou através da Grécia e de Roma para todo o mundo, persistindo ainda hoje em alguns locais. No Egito - lembra Cascudo - elas organizavam-se em grupos: " as que cantavam os elogios do defunto e as que choravam estridentemente diante da fogueira onde o cadáver fora deposto para a incineração.

 

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